A cultura do feijão é fundamental para a agricultura brasileira, cultivada em todas as regiões do país. Responsável por uma extensa cadeia produtiva, o feijão gera empregos e movimenta o mercado agrícola nacional. 

Apesar de sua importância e popularidade, a cultura do feijão enfrenta diversos desafios, especialmente no que diz respeito à proteção contra pragas. Entre os principais problemas fitossanitários, o ataque de lagartas representa um risco significativo. 

Essas pragas podem comprometer o desenvolvimento da planta em diferentes estádios, reduzindo a produtividade e a qualidade do grão, exigindo atenção redobrada dos produtores.

Por isso, conhecer as principais lagartas que afetam o feijão e adotar estratégias de manejo integrado é essencial para manter a saúde das lavouras. Neste texto, abordaremos as espécies mais comuns, além de apresentar práticas de controle que integram o Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Incidência das lagartas nas lavouras de feijão

A incidência de lagartas no cultivo do feijão é um dos principais desafios para os produtores, impactando diretamente a produtividade e a qualidade da safra. A presença dessas pragas pode ocorrer de forma sazonal, com maior frequência em determinadas épocas do ano e condições climáticas que favorecem seu desenvolvimento. Regiões de clima quente e úmido, por exemplo, são mais propensas a surtos de lagartas devido à rápida multiplicação e adaptação das espécies ao ambiente.

Diversas espécies de lagartas atacam o feijão em diferentes fases de desenvolvimento da planta. Desde o estabelecimento das plântulas até o crescimento vegetativo e reprodutivo, essas pragas consomem folhas, caules e brotos, afetando a capacidade fotossintética da planta e, consequentemente, sua produtividade. 

A seguir falaremos das principais espécies de lagartas que colocam em risco a produção de feijão, dividindo-as em três principais grupos: espécies que atacam as plântulas, espécies desfolhadoras e lagartas que atacam vagens

Lagartas que atacam plântulas

Lagartas que atacam plântulas representam uma ameaça logo nos primeiros estádios de desenvolvimento do feijão, podendo afetar o crescimento das plantas e comprometer a produtividade. 

Devido ao momento dos danos na planta, o produtor deve estar atento às populações dessas lagartas desde a implantação da lavoura.

Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)

A lagarta-elasmo, ou broca-do-colo, é uma praga que causa sérios danos nas plântulas de feijão, perfurando o caule e causando o tombamento da planta. A Elasmopalpus lignosellus é especialmente ativa em períodos secos e de temperaturas elevadas

Seu ciclo de vida dura, em média, 45 dias, passando pelas fases de ovo, larva e adulto. A mariposa adulta tem hábitos noturnos e a postura dos ovos é feita no solo ou em restos culturais. 

Ao perfurar a planta, a lagarta-elasmo interfere na absorção de nutrientes e água, o que pode levar à morte das plântulas. Em situações de altas infestações, a ressemeadura se torna necessária. 

O ataque dessa lagarta é muitas vezes confundido com problemas de plantio, tornando-se uma ameaça silenciosa nas primeiras fases da cultura. Além do feijão, essa praga é comumente encontrada em áreas de soja.

Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)

A lagarta-rosca é uma praga de hábitos noturnos que ataca principalmente as plântulas de feijão. No entanto, essa espécie também é motivo de preocupação em outros cultivos, como o milho.

Durante o dia, a Agrotis ipsilon permanece enterrada no solo e, ao anoitecer, sobe à superfície, cortando a planta rente ao solo. Esse corte impede que a planta se desenvolva, podendo comprometer toda a linha de semeadura em casos de infestações severas. 

Embora seu dano maior esteja relacionado à fase de plântula, essa espécie também pode atacar em momentos um pouco mais avançados, danificando o caule e favorecendo o tombamento.

Lagarta-cortadeira (Spodoptera frugiperda e Anticarsia gemmatalis)

A lagarta-cortadeira ataca o feijão desde o estádio de plântula até fases mais avançadas. Embora seja conhecida por afetar diversas culturas, no feijão ela age cortando as plântulas próximo ao solo, causando o tombamento e o ressecamento das plantas. Além disso, as lagartas podem comer as sementes e nas plantas mais adultas, raspar o caule.

A alta capacidade de adaptação a diferentes climas e a facilidade de reprodução tornam  essas espécies pragas de difícil controle, que exige atenção constante. Um sinal bastante comum da presença dessas lagartas no campo é observação dos danos em reboleiras

Lagartas desfolhadoras

As lagartas desfolhadoras são pragas que atacam plantas em estágios mais avançados, consumindo as folhas. Esse hábito de alimentação resulta em menor área fotossintética para o feijão, refletindo na baixa capacidade de produção de vagens e grãos.

Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)

A lagarta-falsa-medideira é uma das principais pragas do feijão em várias regiões do Brasil. A Chrysodeixis includens se caracteriza pelo movimento de “medição” ao se locomover, sendo uma lagarta de fácil identificação. 

Essa praga consome folhas, reduzindo a área foliar e afetando a capacidade fotossintética da planta. Quando não controlada, a lagarta-falsa-medideira pode gerar perdas significativas na produtividade.

Lagarta-enroladeira-das-folhas (Omiodes indicata)

A lagarta-enroladeira-das-folhas se destaca pelo hábito de enrolar as folhas do feijão, dificultando o processo de controle e favorecendo seu abrigo contra predadores. Ao enrolar as folhas ou folíolos, a lagarta cria uma área protegida para alimentação e desenvolvimento, o que também interfere na fotossíntese e pode reduzir o rendimento da lavoura.

Além disso, raspa o parênquima foliar, deixando os folíolos com aspecto rendilhado, que mais tarde acabam secando.

Lagarta-cabeça-de-fósforo (Urbanus proteus)

A lagarta-cabeça-de-fósforo é uma praga desfolhadora que ataca o feijão em diversos estádios de desenvolvimento. A espécie recebe este nome devido à coloração distinta de sua cabeça, que lembra uma cabeça de fósforo. 

Ela consome as folhas do feijão, e ataques severos podem desfolhar significativamente as plantas, prejudicando o desenvolvimento e a produtividade. Também é capaz de dobrar as margens das folhas para se alojar na fase de pupa.

Lagartas que atacam as vagens

As lagartas que atacam diretamente as vagens de feijão representam uma ameaça séria para a produtividade e a qualidade dos grãos, uma vez que o consumo e a perfuração das vagens prejudicam o desenvolvimento das sementes e podem resultar em perdas substanciais na colheita

Essas espécies se alimentam do tecido das vagens e, em muitos casos, dos próprios grãos em formação, comprometendo a produção e afetando a viabilidade econômica da lavoura.

Lagarta-das-vagens (Spodoptera eridania, S. cosmioides, Thecla jebus, Maruca testulalis e Etiella zinckenella)

A lagarta-das-vagens compreende um grupo de espécies que afetam as vagens do feijão, especialmente em estádios reprodutivos. As espécies Spodoptera eridania e S. cosmioides, por exemplo, são encontradas em várias regiões brasileiras e causam danos significativos ao perfurar as vagens e consumir os grãos em formação. 

Outra espécie de grande importância é a Maruca testulalis, conhecida por perfurar as vagens, criando aberturas que favorecem a entrada de patógenos e reduzem a qualidade dos grãos. A Thecla jebus e a Etiella zinckenella também são comuns em plantações de feijão, alimentando-se dos tecidos das vagens e, em casos de altas infestações, podem comprometer toda a produtividade da lavoura. Esses danos são particularmente graves em períodos de estiagem, quando as plantas se tornam mais suscetíveis ao ataque. 

Lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera)

A Helicoverpa armigera, conhecida como lagarta-helicoverpa, é uma das pragas mais agressivas e difíceis de controlar no feijão e em outras leguminosas. 

Essa lagarta possui alta capacidade reprodutiva e resistência a diferentes condições ambientais, o que contribui para a sua rápida disseminação e adaptação a diversos tipos de manejo. A H. armigera ataca as vagens perfurando-as e alimentando-se do conteúdo interno, o que causa perdas expressivas no rendimento da colheita e afeta diretamente a qualidade dos grãos. 

A lagarta tem um ciclo de vida rápido e pode gerar várias gerações durante uma única safra, elevando a pressão de infestação e aumentando a necessidade de monitoramento rigoroso.

Tantas espécies de lagartas exigem do produtor um controle efetivo que atue de diferentes maneiras. 

Manejo Integrado de Pragas (MIP) para controle de lagartas no feijão

O MIP é uma estratégia eficaz e sustentável para o controle de lagartas na cultura do feijão. Esse método se baseia em combinar diversas práticas de manejo para manter as populações de pragas abaixo dos níveis que causariam prejuízos econômicos, promovendo um ambiente equilibrado e favorável ao desenvolvimento saudável da lavoura.

Entre as vantagens do MIP estão o aumento da eficiência no controle de pragas, a redução dos custos de produção e a preservação da biodiversidade na área cultivada. Além disso, o MIP oferece um maior controle sobre as infestações ao incorporar uma estratégia preferencialmente preventiva, diminuindo as chances de surtos e proporcionando uma produção mais estável.

Para uma aplicação eficiente, o MIP utiliza três níveis de controle: Nível de Dano Econômico, Nível de Controle e Nível de Equilíbrio. A partir da definição desses níveis, os produtores conseguem, com o monitoramento, identificar o momento ideal para a adoção das diferentes medidas de manejo, ajustando a intensidade das ações conforme a necessidade da lavoura.

  • Nível de Dano Econômico (NDE)

O NDE representa o limite de infestação em que as lagartas começam a causar prejuízos financeiros para a lavoura. Esse nível é determinado pela relação entre o custo de controle das pragas e as perdas que elas podem causar. 

O objetivo do MIP é intervir antes que o NDE seja atingido, para proteger a produtividade sem que a aplicação de medidas se torne excessiva ou desnecessária. O NDE varia conforme o estádio da cultura, o potencial de dano da praga e o valor de mercado do feijão, e, por isso, deve ser calculado com precisão.

  • Nível de Controle (NC)

Esse nível é o ponto em que se torna necessário aplicar medidas para evitar que o NDE seja alcançado. É estabelecido com base no monitoramento das pragas e serve como uma espécie de alerta para a adoção de intervenções. 

Quando o NC é atingido, medidas de controle, como ações culturais, biológicas ou químicas, são implementadas para reduzir a população de lagartas e impedir que elas causem danos econômicos. Ao agir no momento adequado, o produtor consegue proteger a lavoura de forma eficiente e com menores custos.

  • Nível de Equilíbrio (NE)

É o ponto em que a população de lagartas permanece em um nível controlado, sem causar prejuízos significativos ao feijão. Esse nível considera o equilíbrio entre a população de pragas e o ecossistema da lavoura, no qual fatores naturais, como predadores e condições climáticas, ajudam a regular a presença das lagartas. 

O objetivo do MIP é manter as pragas próximas ao NE, utilizando o mínimo de intervenção para conservar o equilíbrio do ambiente agrícola. Manter as pragas no NE auxilia na estabilidade do cultivo a longo prazo, reduzindo a pressão sobre a cultura e melhorando a resiliência da lavoura.

A importância do monitoramento

O monitoramento é uma etapa fundamental do MIP, pois permite ao produtor acompanhar a evolução das pragas no campo e identificar o momento exato para a intervenção. 

No caso das lagartas do feijão, o monitoramento envolve inspeções regulares nas plantas e o uso de ferramentas como armadilhas de feromônio, que ajudam a detectar infestações em estádios iniciais. 

Essas inspeções devem ser, preferencialmente, realizadas semanalmente para ser possível observar o aumento ou diminuição das populações de lagartas, bem como identificar as espécies presentes. Esse acompanhamento possibilita ajustes precisos nas práticas de controle, maximizando a eficácia do manejo.

Controle cultural

O controle cultural consiste em práticas agrícolas que dificultam o estabelecimento e a proliferação das lagartas, criando condições desfavoráveis para o desenvolvimento das pragas

Na cultura do feijão, técnicas como a rotação de culturas ajudam a interromper o ciclo de vida das lagartas ao reduzir a disponibilidade de hospedeiros. O manejo adequado de plantas daninhas é outra prática essencial, pois essas plantas podem servir de abrigo e fonte de alimento para as lagartas. 

Controle biológico

O controle biológico utiliza organismos naturais, como predadores, parasitoides e patógenos, para controlar as populações de lagartas no feijão. 

O uso de insetos benéficos, como parasitoides de ovos, auxilia no controle de espécies específicas de lagartas ao interromper seu ciclo reprodutivo. Além disso, fungos entomopatogênicos podem ser aplicados para infectar as lagartas diretamente, reduzindo a população sem afetar o restante do ecossistema. 

Esse tipo de controle é eficaz e sustentável, contribuindo para a estabilidade do cultivo e para a preservação da biodiversidade.

Controle químico

O controle químico, que deve ser utilizado com cautela no MIP, continua sendo uma ferramenta importante para situações em que a infestação de lagartas atinge níveis que justificam sua aplicação. 

A aplicação de produtos químicos deve ser realizada de maneira seletiva, utilizando defensivos que sejam específicos para as lagartas e respeitando os níveis de controle estabelecidos. 

O uso de produtos seletivos também minimiza o impacto sobre insetos benéficos e predadores naturais, mantendo o equilíbrio do ambiente. A rotação de ingredientes ativos é uma prática importante para evitar a resistência das pragas e manter a eficácia dos produtos a longo prazo.

Manejo eficaz das lagartas do feijão

O controle das lagartas do feijão é um desafio constante, mas, com o uso de práticas sustentáveis e integradas, é possível proteger a lavoura de maneira eficaz e segura. 

O MIP, com seu enfoque em monitoramento e integração de práticas de controle, permite uma resposta mais eficiente aos ataques das principais lagartas. A aplicação dos níveis de controle e dano econômico contribui para uma tomada de decisão informada, evitando perdas e promovendo a sustentabilidade da cultura do feijão.

Com o avanço de tecnologias e a disseminação de boas práticas, a produção de feijão no Brasil pode se tornar ainda mais sustentável e competitiva, possibilitando ao produtor melhores condições de cultivo e ao consumidor um produto de alta qualidade.